O fim de semana e a militância dos pais
“O fim de semana dos pais não só não supõe o direito a descanso compensatório, retribuição por horas-extra ou folgas rotativas como, pelo contrário, prevê uma atividade frenética que faz de todos os pais verdadeiros freelancers da animação e organização de eventos. Que os leva a começar por um jantar calórico, à sexta-feira. E a prosseguir com o já clássico “toque a despertar”, às 7, feito dum estridente: "Tenho fome!". Seguindo-se as atividades desportivas, ao sábado ou ao domingo; de manhã! Mais as dormidas de um ou de dois "amiguinhos", lá em casa, o que multiplica o alvoroço semanal no sossego do lar umas dez vezes.
Não contando com as festas de aniversário que têm, como programa-paralelo, meetings de pais a discutir os sobressaltos da escola ou as novas tendências da educação positiva, consciente e afins. E inclui os "programas de fim semana" que representam formas sérias dos pais serem pais, procurando museus, parques ou passeios, por exemplo, que fazem com que o descanso semanal comece... à segunda-feira. Não contando, claro, com este "bicho-carpinteiro de pais" que faz com que eles entendam que as crianças não se podem entreter sozinhas, no quarto ou pela casa, a brincar com aquilo que mais lhes apeteça. O que leva os pais a estar numa espécie de "modo de alerta" que os faz parar aquilo que têm em mãos e a estar sempre "de chamada" para todos os "quero pão!", "já fiz cocó", e "queres brincar comigo?" que fazem de qualquer "descanso semanal!" um sonho lindo. Qual é mesmo o porto de abrigo dos pais ao fim de semana? Os desenhos animados, claro. E os jogos de vídeo, o maior tempo possível.
Porque não hão-de as crianças ter de esgravatar pela imaginação adentro e descobrirem formas de brincar que sejam só suas é que eu não entendo. E porque é que os programas dos pais não cabem nos fins de semana dos filhos, muito menos. É, por acaso, pecado descansar do trabalho e dos filhos e ter direito a descanso e a "horas extraordinárias" de namoro a dois, todos os fins de semana?…”
Eduardo Sá